PERDEU, GAGA

Colunista escreve sobre as estrelas dos shows que ocorrerão no Brasil, onde Lady Gaga e Madonna põem à prova as suas reputações. Mas Gaga se deu mal, até porque é pior que a rival

Por Luís Antônio Giron, para Revista Época

Nada como um escândalo para deixar as coisas às claras. O preço dos ingressos de shows no Brasil é um tumor que precisa ser extirpado imediatamente. Quantas vezes não me embrulhou o estômago ver que 50 mil ingressos do show de um xis qualquer do pop se esgotava em segundos. Eu só podia atribuir o fenômeno à fome ancestral de espetáculos que os brasileiros sentiam – e sentem. E o desejo de alguns de rebolarem nas abomináveis áreas vips. Que nojo: é uma miséria cheia da grana. No entanto, ultimamente ficou mais difícil abusar da ingenuidade do público nacional. A prova recente é a seguinte: os ingressos dos shows de Madonna e Lady Gaga encalharam. E agora vão ter de baratear.



As produções das duas estrelas rivais do pop andam desesperadas. A de Lady Gaga ainda mais: fazendo promoções como compre um ingresso e leve dois, e até distribuindo sanduíches e refrigerantes de brinde. O que mais Lady Gaga vai prometer para atrair as multidões sonhadas aos estádios? Ela perdeu o viço juvenil, engordou e até seu traje de carne sangrenta agora é sintético. Não sei se alguém ainda se interessa em vê-la de topless. Já mostrou tudo em outros shows e dezenas de videoclipes. Madonna é mais discreta e encobre suas deficiências com arranjos e visuais superproduzidos.

Os shows no Brasil põem à prova as duas reputações. Há um título de rainha do pop em jogo, e as arenas brasileiras podem ser decisivas. O Brasil costuma ser um túmulo de talentos. No início do século passado, a atriz francesa Sarah Bernhardt (1833-1923) caiu no palco do teatro Municipal do Rio de Janeiro e se despediu melancolicamente da carreira. Nos anos 50, a rivalidade entre as sopranos Maria Callas e Renata Tebaldi foi quase fatal à última. Para não mencionar Emilinha versus Marlene. O público brasileiro adora desde o século XVIII os chamados “partidos teatrais”, ou seja, facções que defendem uma vedete em detrimento de outra. Qual cantora italiana você prefere, a soprano Madonna Luisa Ciccone, de 54 anos e 31 de carreira, ou a mezzo-soprano Stefani Joane Angelina Germanotta, 26 anos, sete de carreira? La Ciccone ou La Germanotta?

Nessa briga de plumas, paetês e curvas à mostra, Gaga leva pior. Ela está vendendo menos ingressos que Madonna, até porque o público que paga caro é levado a escolher entre uma e outra. E o melhor é apostar no certo. Madonna parece ser a preferida.

O motivo da vantagem da Ciccone, além de ser uma artista consagrada, é que ela tem uma estrela maior que a Germanotta. Está há três décadas na ativa, emplacando um sucesso atrás do outro. Imaginar Lady Gaga daqui a 30 anos é absurdo. E isso não tem a ver com a estratégia de vendas, e sim com o coeficiente de talento, ou da falta de talento, de cada uma.

Entre uma e outra, Gaga é pior que Madonna em pelo menos cinco quesitos. Em primeiro lugar, o espetáculo. Madonna apresenta um show musical e visualmente impecável, com variedade e até um certo charme. Há bailarinos, cenários e roupas de alta qualidade. Lady Gaga tenta imitar Madonna em todos os detalhes. Mas o resultado beira o canhestro. Os bailarinos são em geral ruins, os cenários de mau gosto e as roupas parecem itens de brechó extravagante.

O gosto musical das duas não é lá essas coisas. Mas Madonna tem estrada e sabe distinguir o péssimo do simplesmente ruim. Caiu a qualidade de seu repertório recente. As letras perderam o sentido. As melodias e as batidas se repetem assustadoramente. Mas, mesmo assim, conta com arranjadores e produtores de primeiro time. Madonna disfarça a vozinha fraca em filtros bem calibrados. Lady Gaga possui um vozeirão, mas grita demais e não consegue modular nem timbrar a voz. Canta mal e compõe canções que não passam de cópias de sucessos antigos de Abba e Elton John. Os músicos de Gaga são medíocres e excessivamente ofuscados pela musa berrante. As canções dela abordam temas como a mídia e as desilusões amorosa, além de homenagens à comunidade GLBT – por motivos óbvios. São eles os “monstrinhos” que a mantêm.



A beleza e a presença em palco são a terceira e quarta razões para premiar Madonna. Vou falar claro: Madonna é bonita, cuida da aparência e cultiva a elegância. Lady Gaga é medonha. Parece uma bruxa que se perdeu do Mágico de Oz. Veste-se mal e não sabe requebrar nem dançar. Disfarça todas essas características grosseiras em uma atitude “cool”, bacana. Mas não passa de uma desajeitada filhinha de papai de Uptown.

Por fim, a prova mais cabal da supremacia de Madonna sobre Gaga é a ousadia. Madonna tem uma história nesse tipo de apelação ao público. No fim dos anos 80, ela fazia amor com Jesus Cristo e promovia orgias em seus videoclipes e shows. Foi a primeira diva de primeira grandeza a assumir o erotismo explícito. Lady Gaga a se porta como uma caricatura de atrevimento. Ela aparece nua, mancando, morta e ressuscitada em suas aparições ao vivo e clipes. Mas, no fundo, possui a audácia de uma enfermeira. Gaga, enfim, é grotesca e apela para o gosto duvidoso, a paródia, a crítica barata aos meios de comunicação. Madonna mantém, até certo ponto, a dignidade de alguém que quer se manter no pódio das divas.

Se fosse para escolher entre uma e outra, eu optaria por Gwen Steffani, a terceira italianinha pop de Nova York. Mas o pop não me excita. É coisa de crianças, inclusive as crescidas. A música pop consiste em uma sopa rala, porém cheia de Ajinomoto sonoro. Odeio. Para mim, vivo repetindo, só existem dois gêneros musicais: o bom e o ruim. A música pop figura quase toda no gênero ruim. A erudita, no bom. Infelizmente é assim. E não estou sendo “elitista”, como gostam de dizer os recalcados que não entendem e não querem entender a música erudita. É apenas uma constatação.

Para mim, tanto Madonna como Lady Gaga estão grudadas nos fundilhos da cultura pop mais pedestre. Mesmo assim, odeio menos a Madonna que a Gaga. Madonna mostrou sua personalidade e o seu talento ao público. Pode não ser a melhor cantora do mundo (de fato é uma das piores), mas é o que é, gostemos ou não. Madonna impôs uma nova sexualidade. O que fez Lady Gaga? Repetiu os chavões criados por Madonna sob a espécie da farsa. Lady Gaga afirmou que não passa de uma projeção de seu público, a que ela chama de “meus monstrinhos”. Não passam de cordeirinhos. E, como tal, sentem a necessidade atávica de adotar uma diva que os conduza ao abismo da arte duvidosa. Lady Gaga é o vazio que o público completa. Mas, pelo jeito, a ausência de boa parte do público brasileiro não vai preencher a lacuna que é Lady Gaga.



Sobre o Redator: Luís Antônio Giron Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV.

fonte: Estilo Madonna 

Um comentário:

  1. gaga tinha que continuar criando sua própria identidade, assim como ela tava fazendo no inicio da carreira e não copiar da MADONNA ,como fez a partir de alejandro . O que ela faz hoje eh ridículo e nao vai durar uma década !

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